A foto que ilustrao meu post de hoje, (um poema de José Jorge Letria, "A Minha Saudade Tem O Mar Aprisionado"), encontra-se em destaque na frontpage do SAPO. Os créditos dela, vão inteiramente para o seu autor, João Costa.
Agradeço ao SAPO o destaque, e ao João Costa a amabilidade com que me disponibilizou a reportagem fotográfica que, em Dezembro último, fez sobre a Ilha Terceira, reportagem essa que tenho em minha posse e da qual a referida imagem faz parte.
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Jo
Monte Brasil, Ilha Terceira, Açores - Foto de João Costa
A minha saudade tem o mar aprisionado
na sua teia de datas e lugares.
É uma matéria vibrátil e nostálgica
que não consigo tocar sem receio,
porque queima os dedos,
porque fere os lábios,
porque dilacera os olhos.
E não me venham dizer que é inocente,
passiva e benigna porque não posso acreditar.
A minha saudade tem mulheres
agarradas ao pescoço dos que partem,
crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes,
soldados execrando guerras.
Pode ser uma casa ou uma rede
das que não prendem pássaros nem peixes,
das que têm malhas largas
para deixar passar o vento e a pressa
das ondas no corpo da areia.
Seria hipócrita se dissesse
que esta saudade não me vem à boca
com o sabor a fogo das coisas incumpridas.
Imagino-a distante e extinta, e contudo
cresce em mim como um distúrbio da paixão.
José Jorge Letria, in "A Metade Iluminada e Outros Poemas"
(foto retirada da net)
Ilha Terceira, Açores - Foto de João Costa
É pecado dizê-lo, amor, mas se eu fosse Deus, serias irremediavelmente a minha namorada. Apanharia com doçura a tua mão esguia e os teus dedos breves como madrugadas azuis do nosso silêncio e saberia, então, encostar-me à tua baía de todas as bonanças. Se eu fosse Deus, amor, ia percorrer-te a cada instante nas tuas marginalidades e nos teus epicentros sempre prontos a bulir e acabaria, irremediavelmente pecaminoso, ancorado a uns lábios de um luar saboroso até que o mar acabasse. Amor, se eu fosse Deus, iria ajoelhar-me até ao fim de tudo para te levar, com glória, para um reino que não é deste mundo.
Decerto que endoideci de paixão. Em vez alguma poderei entrançar-me nos teus cabelos longos e lindos e belos, nem adormecer sossegadamente no teu colo de verdura terna. Levou-te o mar para presente dos Oceanos. Eles são valentes e grandiosos, mas não foi isso que tinhamos combinado.
José Daniel Macide in Crónicas com Flores, 18 de Junho de 1996
Na minha opinião, este é um dos mais belos textos que alguma vez já se escreveu acerca da minha cidade natal, a cidade de Angra do Heroísmo.
(foto retirada da net)
Vôos Regulares
Academia do Bacalhau da Ilha Terceira
Escalas Obrigatórias (para ajudar, ou saber mais sobre as seguintes causas, clique nos links)
Gatos Abandonados (Monte Brasil)
VIVA - Volunteers for Inter-Valley Animals
Refeições a Bordo