Ilha Terceira, Açores - Foto de João Costa
É pecado dizê-lo, amor, mas se eu fosse Deus, serias irremediavelmente a minha namorada. Apanharia com doçura a tua mão esguia e os teus dedos breves como madrugadas azuis do nosso silêncio e saberia, então, encostar-me à tua baía de todas as bonanças. Se eu fosse Deus, amor, ia percorrer-te a cada instante nas tuas marginalidades e nos teus epicentros sempre prontos a bulir e acabaria, irremediavelmente pecaminoso, ancorado a uns lábios de um luar saboroso até que o mar acabasse. Amor, se eu fosse Deus, iria ajoelhar-me até ao fim de tudo para te levar, com glória, para um reino que não é deste mundo.
Decerto que endoideci de paixão. Em vez alguma poderei entrançar-me nos teus cabelos longos e lindos e belos, nem adormecer sossegadamente no teu colo de verdura terna. Levou-te o mar para presente dos Oceanos. Eles são valentes e grandiosos, mas não foi isso que tinhamos combinado.
José Daniel Macide in Crónicas com Flores, 18 de Junho de 1996
Na minha opinião, este é um dos mais belos textos que alguma vez já se escreveu acerca da minha cidade natal, a cidade de Angra do Heroísmo.
Para quem ainda tenha dúvidas:
“As ‘sortes de varas’ são actos tauromáquicos extremamente violentos típicos das touradas em Espanha, estando em crescendo o número de vozes e de movimentos que a contestam. Nas ‘sortes de varas’, os touros estão com os cornos inteiros e investem desesperadamente contra um cavalo – que tem uma imensa e muito pesada armadura a toda a sua volta e que tem os olhos tapados para não ter ainda mais medo do que já sente, enquanto, do alto do cavalo, o “picador” espeta uma longa lança – a vara –, com um ferro muito comprido e afiado na extremidade, no dorso do touro. Quanto mais o touro faz força para se soltar e tentar defender, mais o ferro comprido o perfura, rasgando-o e provocando-lhe um ferimento de gravidade extrema.”
Ao abrigo do novo Estatuto Político e Administrativo dos Açores, documento que veio reforçar a Autonomia Açoriana e dar mais poder à Assembleia Legislativa Regional, deu entrada nessa mesma assembleia no passado dia 24 de Abril, um Projecto de Decreto Legislativo Regional que pretendia legalizar a "sorte de varas" na região. Depois da muita polémica que o referido Projecto suscitou junto dos orgãos de comunicação e da população em geral, no passado dia 14 de Maio, a proposta foi rejeitada com 28 votos contra, 26 a favor e 2 abstenções.
Embora, como penso que é óbvio de perceber, eu não seja aficionada, e mesmo estando longe da minha terra natal, Ilha Terceira - Açores, segui com atenção a evolução destes acontecimentos. Na altura optei por manter o silêncio, em parte porque a falta de tempo que tenho tido, não me deixou ter a concentração necessária para escrever e me pronunciar sobre um assunto que quanto a mim, não pode, nem deve ser abordado com leveza... E em parte também porque por vezes me é difícil falar e exprimir opiniões sobre questões que quanto a mim, de tão arcaicas e fora do contexto que são, já deviam há muito ter sido postas de parte, e não deviam sequer fazer parte das nossas agendas, quanto mais das agendas de quem tem nas suas mãos a responsabilidade de gerir e de, supostamente, conduzir o futuro de um povo e de uma região!
Penso que não é surpresa para ninguém, que seja minimamente atento e tenha dois dedos de testa, se eu disser que sou DETERMINANTEMENTE CONTRA TODO E QUALQUER ESPECTÁCULO DE ENTRETENIMENTO QUE ASSENTE NA HUMILHAÇÃO, TORTURA E MORTE DE QUALQUER SER VIVO! Para mim, actos bárbaros, não são nem nunca poderão ser considerados cultura, e quanto à tradição (partindo do princípio que é nessa base, a meu ver falsa e deturpada, que assenta o referido Projecto), o que eu digo é que como todos nós sabemos, na história da humanidade (felizmente!) muitas tradições foram desaparecendo e caindo em desuso, precisamente por já não se enquadrarem na forma como as sociedades, e as mentalidades, foram evoluindo. É desta forma que os tempos mudam e avançam, e é assim que fomos, e vamos, progredindo.
Que eu saiba, e tanto quanto me lembre, a "sorte de varas" não é uma tradição da tauromaquia terceirense, e a prová-lo está o facto de que o povo dela não gosta!... A prová-lo está o facto por demais evidente de que, quando há alguns anos atrás se tentou, à revelia, introduzir a prática na Feira de S. João que se realiza em Junho por altura das Festas Sanjoaninas, o povo aficionado da ilha Terceira não aderiu a esse tipo de corridas.
Para que não restem dúvidas, e para informação de quem não tenha conhecimento, o povo da minha terra não é sanguinário, não é cruel e não é inculto! O povo da minha terra é de boa índole, tem bom coração e sabe acarinhar e proteger a natureza, pois é dela que afinal vem a grande parte do seu ganha-pão!... Para que não restem dúvidas, e para que não hajam equívocos, o povo da minha terra não pode, nem deve!, ser confundido com minorias elitistas e com os seus ideais deturpados e obsoletos!
Dirão os "entendidos" que porventura me lerem, que eu não sei do que falo... Que não entendo nada de tauromaquia. E eu respondo, pois não meus senhores, não sei, nem quero saber!! Há assuntos sobre os quais prefiro não saber os detalhes, pois o todo só por si, já me causa a náusea e a repulsa suficientes para que eu os repudie!... O que eu sei mesmo, do que eu entendo mesmo, é de vida e do respeito que por ela, nas suas mais diversas formas, todos nós devemos ter! E isso a mim é quanto me basta para formar a minha opinião acerca de espectáculos que desde a minha mais tenra idade condeno, porque sempre os considerei, e continuo a considerar, actos de violência desnecessária que nada abonam a favor do carácter da espécie animal à qual às vezes me envergonho de pertencer, e a qual se diz ser a racional!
Para finalizar, quero ainda acrescentar, que a mim me faz pena constatar que foi esta a estreia do novo Estatuto Político e Administrativo dos Açores, pois atitudes como esta só vêm reforçar a opinião de quem a ele se opôs desde início. Numa região onde há tanto por fazer, melhor seria que os senhores deputados aplicassem o novo Estatuto, e o seu (e nosso) tempo de antena para debaterem e aprovararem projectos que, esses sim, viessem favorecer a nossa região, e as suas populações em geral. Projectos que nos fizessem avançar e progredir, e não que nos fizessem mais uma vez ficar a marcar passo no tempo.
Ponham a mão na consciência, senhores governantes, e deixem de uma vez por todas de dar voz, e protagonismos, a complôs autistas, que de todo não representam a vontade da maioria do povo açoriano!!! Caso V. Exas. ainda não percebido o mundo está a avançar no sentido inverso do que esse Projecto propunha, e ainda que não o aprovando, é certo , mas mais que não seja permitir que se dê tamanho destaque a assuntos como este, que deviam era há muito estar mortos e enterrados, por vossas (e nossas) mãos, não abona nada, mas mesmo nada, a favor da tal imagem de Paraíso Natural que pretendemos projectar para o exterior, e que pretendemos passe a ser o "cartão de visita" das nossas ilhas .
Espero sinceramente que este (mais que lamentável) assunto, tenha ficado encerrado, de vez por todas.
Jo
Ah, e já agora, para os mais esquecidos, aqui fica só, mais uma coisinha:
Declaração dos Direitos dos Animais, aprovada em Outubro de 1978 pela UNESCO, e seguidamente pela ONU
Artigo 10º
1. Nenhum animal deve ser explorado com sofrimento para entretenimento do homem.
2. As exibições e os espectáculos que impliquem a dor de animais, são incompatíveis com a dignidade do animal.
Artigo 11º
1. Todo o acto que implique a morte de um animal, sem necessidade, é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida.
2. As cenas de violência nas quais os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e na televisão, salvo se essas cenas têm como fim mostrar os atentados contra os direitos do animal.
(foto retirada da net)
DIÁRIO DE VIAGEM
Hoje é Dia das Amigas ou Quinta-feira de Amigas, como lhe preferirem chamar, pois eu cá por mim chamo-lhe muito simplesmente O DIA MAIS BONITO DO ANO!
Para quem não sabe, o Dia das Amigas é uma tradição Açoriana, celebrada com grande e particular entusiasmo na minha ilha Terceira. Este dia tem lugar, sempre todos os anos, na 3ª Quinta-feira imediatamente antes da semana do Carnaval.
Hoje a festa impera na minha terra natal!!... E é festa da grossa, festa de arromba!!!... Homem que por sorte hoje aterre na ilha Terceira, pensará que decerto morreu e foi para o céu, pois todos os cafés, bares, restaurantes, ruas, todos os cantos, estarão predominantemente povoados de mulheres, que em grupos, alegre e ruidosamente, festejam. Este é um dia alegre, caloroso, fervilhante dos timbres das vozes e das gargalhadas femininas, que como que num cântico se juntam e ecoam por toda a ilha, celebrando o mais nobre dos sentimentos: A AMiZADE!
Quando eu vivia na ilha Terceira, este dia era por mim, e pelas minha amigas, vivido com grande intensidade. Semanas antes começavamos já, eu especialmente, num desassossego a imaginar, e a engendrar, que prendinhas dar às amigas, pois imperava a tradição estabelecida por nós, que teria de ser algo original e vindo da criatividade de cada uma. Nada de especial, só pequenos mimos personalizados, que serviam para dizer: Sou tua amiga! Obrigada por seres minha amiga também!...
E almoçavamos juntas, tomavamos juntas o café, lanchavamos... Tudo era pretexto para estarmos juntas, e festejar!... Á noite embonecavamo-nos todas, calçavamos os saltos altos, porque a ocasião assim o pedia, e íamos jantar... Íamos para as nights... Depois, pela noite dentro, riamo-nos muito, faziamos muitos brindes, dançavamos, cantavamos, diziamos brejeirices aos poucos, e corajosos, homens que se atreviam a sair a rua nessa noite... E divertiamo-nos sempre à grande!!!...
Apesar de no outro dia ser dia de trabalho, que se lixe!, quantas vezes viemos para casa já o sol raiava no horizonte!!... Às vezes, é verdade, meias tombadas, desgrenhadas, cansadas, roucas, nauseadas, com os pés doridos... Lá nos íamos apoiando e amparando conforme podíamos, nos ombros seguros, confortáveis, amigos, umas das outras... Em mais um final de uma noite do Dia de Amigas, assim, como na vida...
UMA POR TODAS, E TODAS POR UMA!!...
Jo
(imagem retirada da net)
Às minhas Amigas... A todas elas!!! Minhas companheiras de vida...
Embora longe, no meu coração eu continuo a viver este dia com a mesma alegria e mesma intensidade de outrora... E neste dia continuo a estar sempre, mas sempre, perto de todas, e cada uma de vós, a celebrar com o entusiasmo habitual, a amizade que nos une!
FELIZ DIA DAS AMIGAS!
É isso mesmo "melheres" e homens!!! Eu já estou de passagens compradas, e de bilhetes na mão, prontinha para viajar até à minha terra, e para ir passar uns tempos com a minha gente!!!
A minha chegada a "solo sagrado" está prevista para o dia 3 de Dezembro às 09.50 AM, que por assim dizer, e na hora local, é às "dé pár dé da manhanhe"!!
Agora só falta mesmo é fazer as malas... Mas pressinto que vou começar a fazê-las, soon... Very soon!
YyyYYeeEEEEEAAAAaaaaAAAHH!!! Terceira Island, aí vou eu!!!
Jo
Vôos Regulares
Academia do Bacalhau da Ilha Terceira
Escalas Obrigatórias (para ajudar, ou saber mais sobre as seguintes causas, clique nos links)
Gatos Abandonados (Monte Brasil)
VIVA - Volunteers for Inter-Valley Animals
Refeições a Bordo