Para terminar o ano "em beleza", ontem, mais dois gatos foram parar ao gatil da VIVA devido ao facto da dona ter perdido o emprego e consequentemente a casa, o que faz com que neste momento esteja a viver no carro, lutando para sobriver com um parco cheque da segurança social e a ajuda da caridade alheia. Este infelizmente não é um caso isolado, sendo de facto o quarto no género com que tivemos de lidar nos últimos tempos, consequências todos eles de uma crise económica que não é decerto novidade para ninguém.
Todos os dias, sentados no conforto das nossas salas de estar, assistimos ao desfilar de notícias que são os sinais dos tempos que atravessamos... Fábricas que fecham, despedimentos em massa, casas e bens penhorados pelos bancos, vidas postas em stand by à espera de tempos melhores que queremos acreditar ainda estarão para vir. Ficamos chocados, solidários, mas seguimos em frente, pois afinal é assim a vida... E porque afinal a verdade é que de certa forma já nos tornamos todos quase que imunes no que toca à desgraça alheia traduzida em forma de matéria para "encher" telejornais de horários nobres.
Mas tudo muda de figura quando essa desgraça toma um rosto, quando a vemos e ouvimos contada na primeira pessoa, quando a olhamos olhos nos olhos e lhe pressentimos a tristeza e o desalento. Aí não lhe podemos mais ser indiferentes pois percebemos que afinal ela acontece mesmo, e o que é mais assutador, a pessoas como nós. Nesse momento revelador em que a notícia deixa de ser notícia e passa a ser um facto real e palpável, vemos que tudo afinal é mesmo efémero, e que a nossa realidade e as nossas certezas de hoje podem não ser de todo as mesmas de amanhã... A nossa vida, e tudo o que possamos possuir, não passa mesmo de um castelo de cartas que pode ruir em segundos com o mais breve sacão do destino ou da vida!...
Ontem foi um dia triste, e cheguei a casa com o meu ainda coração confrangido pelo pranto daquela mulher que podia muito bem ter sido eu, num tempo não muito distante da minha vida em que só contava com o fruto do meu trabalho para me sustentar a mim, e aos meus gatos. Ontem quando entrei na minha casa, (esta casa que não está de todo ainda decorada como eu gostaria que estivesse e que ainda tem um quarto vazio porque não temos mobília para lá pôr), e achei-a a mais linda e acolhedora casa do mundo! Ontem a minha Ceia de Fim de Ano, feita à pressa porque tive de trabalhar todo o dia, pareceu-me a mais requintada e deliciosa das refeições! Ontem de cada vez que o aquecimento central disparou eu senti-me a mais sortuda das mulheres! E à noite quando me deitei, a minha cama pareceu-me a mais macia e quente das camas... E o ronronar do meu gato encostado aos meus pés deu-me uma paz indescritível!
Eu sei que esta é a altura do ano em que por tradição desejamos que todos sonhos se realizem e todos desejos se concretizem, mas numa época em que tudo é tão incerto e em que tanta gente luta para conseguir ter apenas o suficiente para poder manter e viver uma vida com o mínino de diginidade, eu não ficaria em paz com a minha consciência se me deixasse levar pelo calor do momento e fosse muito ambiciosa nos meus votos para 2010. Como tal, e se me permitem, vou ser modesta e vou-me ficar pelo básico... Assim sendo, este ano o que desejo para mim e para todos, é: Um tecto que nos abrigue, um lar que nos dê segurança, meios de subsistência que nos permitam viver uma vida com um mínimo de conforto, e "pão" nas nossas mesas todos os dias. Que nunca percamos a coragem e a esperança!
Feliz Ano Novo!
Jo
Vôos Regulares
Academia do Bacalhau da Ilha Terceira
Escalas Obrigatórias (para ajudar, ou saber mais sobre as seguintes causas, clique nos links)
Gatos Abandonados (Monte Brasil)
VIVA - Volunteers for Inter-Valley Animals
Refeições a Bordo