Hoje lembrei-te especialmente de ti... Por ser o Dia da Mãe, é verdade, mas também por me ter vindo à ideia uma expressão que me dizias sempre que a tristeza e o desânimo me assaltavam... Uma expressão muito tua que repetias sempre que me pressentias prestes a recuar ou a desistir... Recordei eu que em tempos quando te confidenciava algum desgosto ou contrariedade, tu, subindo ao teu pedestal de líder matriarcal e com a tua voz de comando, punhas logo um fim ao meu choradinho e impunhas sem dó nem piedade: Eh!!! Isso agora o que é?! Vamos lá!! P"RA CIMA!...
E lembrei-me também que às vezes eu me revoltava por não entender tal falta de compaixão da tua parte... Então eu estava ali à tua frente, frágil, vulnerável, de braços caídos, e tu em vez de me abraçares e te condoeres com as minha dores, vinhas com a tua atitude autoritária?!?... E que diabo de mulherzinha exigente eras tu, que não eras compreensiva como as outras mães e nem sequer te contentavas, como o comum dos mortais se contenta, em dizer apenas e somente um vulgar "para a frente é que é o caminho", que afinal é o que toda a gente diz?!!... Não!! Contigo tinha de ser tudo sempre diferente... Tinha de tudo ser sempre levado aos seus limites!!!... Para ti, ir para a frente e trilhar o nosso caminho, não era o suficiente... Para ti, o trilho a seguir era aquele que ía unicamente e sem retorno, P'RA CIMA!...
E foi à conta dessa tua atitude que muitas vezes te escondi os meus fracassos, os meus desgostos e as minhas fraquezas, pois a verdade é que a uma dada altura da minha vida em que tudo parecia dar para o torto, eu cheguei a um ponto em que não suportava mais que me mandasses P'RA CIMA!! Não suportava que tal me dissesses, principalmente quando eu sentia que muitas vezes nem forças tinha para rastejar sequer!!... E em silêncio sofri... A um canto, só, fui lambendo as minhas feridas.
Mas a verdade também é que de pouco ou nada me serviu afastar-me de ti só para não ter de te ouvir mandar-me para onde eu me recusava ir... E o certo é que de todas as vezes que tropecei, de todas as vezes que caí, eu me levantei num salto e me elevei, porque na minha mente ecoou o teu grito de guerra: Eh! Vamos lá!! P'RA CIMA!!!... E mesmo que nesses momentos tu não estivesses lá presente fisicamente para me ver e me espicaçar, eu senti em mim a responsabilidade de não te desobedecer e sobretudo, de não te decepcionar... E de te provar que dentro de mim eu sabia, que o único caminho a seguir quando não já havia mais nada a fazer, era ir para onde tu teimavas em me mandar... Era ir, P'RA CIMA!
E então aconteceu que com o tempo e a maturidade eu comecei a perceber que essa tua expressão, que tinha o condão de tanto me mexer com as entranhas mas de ao mesmo tempo me mover, não era mais do que a tua mão que me emprestavas de cada vez que eu vacilava, tombava e me perdia ... O teu P'RA CIMA não era mais do que um (a)braço que me protegia e me mostrava a luz a seguir... E percebi acima de tudo que por vezes mais do que um carinho, o que precisamos mesmo é que nos mostrem que somos capazes, que confiem nas nossas capacidades, e nos tragam de volta ao nosso caminho!... E hoje finalmente, em paz contigo e comigo, eu compreendo tudo... E estou-te grata por nunca teres desistido de mim e por teres sempre acreditado que eu era capaz de cumprir o que me estava destinado... Estou-te grata por teres visto em mim uma força que tantas vezes duvidei ter, e por me teres mostrado que baixar os braços e desistir não é nunca, e em circunstância alguma, uma solução aceitável!... Hoje eu sou corajosa e acredito em mim porque tu me ensinaste que para a frente afinal todos podemos ir, mas só alguns é que têm a força e a determinação necessárias para insistir sempre em ir, P'RA CIMA!
Mãe, eu sei que tu fisicamente ainda te encontras entre nós, mas aceito conformada e já sem dor, que parte de ti partiu... Mas essa parte de ti que te foi roubada pela doença que precocemente sobre ti se abateu, eu tenho a certeza e conhecendo como te conheço, que essa parte de ti, só pode mesmo estar num lugar... E esse lugar fica sem sombra de dúvida, algures, P'RA CIMA!!!... E eu prometo-te que não te vou decepcionar nunca, e que vou continuar a trilhar o caminho que me mostraste... Eu sei que um dia, também hei-de lá chegar... Um dia, mãe, havemos nós as duas de nos encontrar, nesse teu tal lugar que eternamente aponta, P'RA CIMA.
OBRIGADA!
A tua Jo
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